Thursday, November 21, 2019

A minha avó

Como todas as outras não era de agora.
Veio dum tempo conivente com
o pai a proibir de cortar o cabelo. Bom,
nunca o vi comprido na senhora.

Não é segredo que entre nós
pouco havia de concordância,
dada a tamanha distancia
mas queria nos bem a todos nós.

Veio dum tempo em que feita a quarta
teve de começar numa fabrica
para a família ajudar a sustentar
com seu recorrente pesar.

Mas garantiu outra história aos filhos
e enquanto gabava “os netos mais lindos
a nós repetia “estuda minha filha”
que só os estudos te elevam na vida.

Veio de um tempo em que a menina de chapéu
era ensinada para encantar e receber
mas ambiciosa e orgulhosa ela subiu
da fábrica aos escritórios e à loja deles.

A loja era dos avós mas todos sabemos
que a partilha era compartimentada
a parte social e física ao avô entregada,
ficou com ela a gerencia e governos.

Veio de um tempo duro e injusto,
e se era catolicamente crítica
era um cuidado que estendia à família
numa defesa justificada de instinto.

E se eu hoje me considerar melhor
por entender a falha da sociedade ao pobre
é em parte porque a minha avó
entre mais tornaram-na mais uniforme.

Eu não preciso de aceitar
nenhuma das suas ideias
para a minha avó admirar,
uma mulher de armas.

Porque a minha avó veio de outrora
mas a ela eu devo muito da melhora
e por ela a minha alma chora.

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