Como todas as outras
não era de agora.
Veio dum tempo
conivente com
o pai a proibir de
cortar o cabelo. Bom,
nunca o vi comprido
na senhora.
Não é segredo que
entre nós
pouco havia de
concordância,
dada a tamanha
distancia
mas queria nos bem a
todos nós.
Veio dum tempo em
que feita a quarta
teve de começar
numa fabrica
para a família
ajudar a sustentar
com seu recorrente
pesar.
Mas garantiu outra
história aos filhos
e enquanto gabava
“os netos mais lindos
a nós repetia
“estuda minha filha”
que só os estudos
te elevam na vida.
Veio de um tempo em
que a menina de chapéu
era ensinada para
encantar e receber
mas ambiciosa e
orgulhosa ela subiu
da fábrica aos
escritórios e à loja deles.
A loja era dos avós
mas todos sabemos
que a partilha era
compartimentada
a parte social e
física ao avô entregada,
ficou com ela a
gerencia e governos.
Veio de um tempo
duro e injusto,
e se era
catolicamente crítica
era um cuidado que
estendia à família
numa defesa
justificada de instinto.
E se eu hoje me
considerar melhor
por entender a falha
da sociedade ao pobre
é em parte porque a
minha avó
entre mais
tornaram-na mais uniforme.
Eu não preciso de
aceitar
nenhuma das suas
ideias
para a minha avó
admirar,
uma mulher de armas.
Porque a minha avó
veio de outrora
mas a ela eu devo
muito da melhora
e por ela a minha
alma chora.